Charles Domery: o soldado insaciável que comia tudo, até gatos
Ao longo da história o que não faltam são esquisitices dos mais variados tipos como, por exemplo, seres humanos com habilidades extraordinárias e condições médicas inexplicáveis em suas épocas.
No passado, muitas dessas pessoas iam parar em circos se apresentando nos terríveis shows de horrores, o que as levava a uma vida de exploração e degradação. Algumas até chegaram a ser estudadas. Charles Domery foi uma delas.
Se você já viu aqueles programas de TV em que uma pessoa come 50 cachorros-quentes em poucos minutos, isso não chega nem perto da inacreditável voracidade para comer de Charles Domery, o homem que tinha um apetite tão insaciável que quase nada lhe escapava.
Uma curiosidade médica
(Fonte: History Collection/Reprodução)
Charles Domery era um soldado francês que, devido às reviravoltas de sua função, acabou preso aos 21 anos em Liverpool. E, sim, ele já comia de tudo nessa época. Mas não foi a comida ruim da prisão que lhe abriu o estômago.
Relatos dão conta de que seus desejos peculiares começaram ainda na adolescência, quando tinha 13 anos. Foi por volta dessa época que ele se juntou ao exército francês e descobriu que as duas rações diárias não eram suficientes para mantê-lo.
Após sua prisão, em 1799, o Dr, Thomas Cochrane, então cirurgião do Royal College of Physicians de Edimburgo, recebeu Charles Domery sob seus cuidados – e não demorou muito para perceber que os hábitos alimentares do rapaz eram incomuns.
Gatos, ratos, cachorros, velas e até grama faziam parte da dieta de Domery. Enquanto estava com os ingleses em Liverpool, Charles deixou seus captores perturbados e chocados ao comer quase 8 kg decarnes cruas, velas de sebo e beber quatro garrafas de cerveja. Tudo isso sem vomitar, urinar ou precisar defecar.
Um dos médicos que acompanhou e pesquisou Charles, o Dr. J. Johnston, chegou a registrar certa vez que “a ânsia com que ele ataca sua carne quando seu estômago não está farto lembra a voracidade de um lobo faminto, arrancando-a e engolindo-a com avidez canina”.
O médico ainda complementa seu relatório dizendo que, quando a garganta de Charles ficava seca devido ao seu uso intenso e contínuo, ele a lubrificava com a gordura de velas (com pavio, barbante e tudo).
O Glutão, pintura de Thomas Rowlandson. (Fonte: Royal Collection Trust/Reprodução)
Enquanto exercia suas funções como um jovem soldado, Charles Domery tentava compensar suas míseras rações comendo capim. Mas isso também não adiantava.
De acordo com um relato escrito pelo Dr. Thomas Cochrane e publicado no The London Medical and Physical Journal, no decorrer de um ano, Domery comeu 174 gatos (mortos ou vivos). A única coisa que ele deixava de fora era a pele dos animais. Ainda segundo o médico, Charles tinha muitas marcas em seu rosto e mãos, já que era atacado pelos animais que pretendia comer. Cães e ratos sofreram igualmente com sua boca impiedosa.
(Fonte: All That Interesting/Reprodução)
Cochrane também descreve um outro episódio: quando o navio de Domery se rendeu, ele recorreu ao canibalismo. “Encontrando-se, como sempre, faminto, com nada mais em seu caminho exceto a perna de um homem, que foi baleado, caída diante dele, ele a atacou com avidez e estava se alimentando com vontade, quando um marinheiro arrancou-a dele e jogou-a ao mar”, escreveu o médico sobre o evento.
Infelizmente, pouco se sabe sobre Domery após essas ocorrências. Ele morreu por volta dos anos 1800. O que causou seus estranhos hábitos alimentares também permanece um mistério. Mas existiram algumas suposições médicas, como a de ele ter sofrido problemas na amígdala, o que levou a polifagia. Mas não há como sabermos com certeza.