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Caça ao tesouro: o mistério das moedas do naufrágio de 1715

Caça ao tesouro: o mistério das moedas do naufrágio de 1715

Quando 101 moedas de ouro de um naufrágio espanhol de 1715 foram encontradas na costa da Flórida, parecia um conto clássico de tesouros perdidos e encontrados. Mas o que era para ser uma celebração da história acabou virando um caso policial digno de filme. Das moedas descobertas em 2015 por uma equipe de salvamento contratada, 50 foram desviadas e escondidas pelos próprios descobridores, iniciando uma saga que envolveu investigações, roubos e até manobras para enganar novos investidores.

A história começa em julho de 1715, quando uma frota espanhola carregada de ouro e prata naufragou em um furacão ao largo da costa leste da Flórida. Os tesouros, destinados a aliviar a crise financeira da Espanha após a Guerra de Sucessão Espanhola, afundaram com 11 dos 12 navios da frota. Apenas um navio sobreviveu, enquanto o resto foi tragado pelas águas, levando consigo mais de US$ 400 milhões em riquezas e centenas de vidas humanas.

Piratas modernos

Além de valiosos, muitos dos artefatos são muito bonitos.
Além de valiosos, muitos dos artefatos são muito bonitos. (Fonte: Florida Fish & Wildlife Conservation Commission/ Divulgação)

Séculos depois, os destroços dessa frota, conhecidos como Frota de 1715, tornaram-se uma atração para caçadores de tesouros. A Treasure Coast (Costa do Tesouro), como a região passou a ser chamada, é repleta de histórias de descobertas fascinantes. Em 2015, uma empresa chamada 1715 Fleet – Queens Jewels, LLC, especializada na recuperação de artefatos históricos, contratou a família Schmitt para explorar os naufrágios. 

Eles anunciaram a descoberta de 51 moedas de ouro, além de uma corrente de ouro de 12 metros, avaliadas em mais de US$ 1 milhão. O que ninguém sabia é que havia mais 50 moedas escondidas.

O esquema veio à tona quando Eric Schmitt, membro da equipe e da família envolvida, tentou vender algumas das moedas entre 2023 e 2024. 

Uma investigação conduzida pelo FBI e pela Comissão de Conservação de Peixes e Vida Selvagem da Flórida (FWC) revelou não apenas o roubo, mas também que Eric havia “plantado” três moedas no fundo do mar para enganar novos investidores e reforçar a credibilidade de sua equipe. Metadados digitais e geolocalização ajudaram a conectar Eric às moedas, incluindo fotos tiradas em sua própria casa.

Em busca do tesouro roubado

No momento, segundo as autoridades, existem 13 moedas com paradeiro desconhecido. (Fonte: Florida Fish & Wildlife Conservation Commission/ Divulgação)
Segundo as autoridades, existem 13 moedas com paradeiro desconhecido. (Fonte: Florida Fish & Wildlife Conservation Commission/ Divulgação)

Até agora, 37 das 50 moedas desaparecidas foram recuperadas, avaliadas em mais de US$ 1 milhão. Algumas estavam escondidas em cofres, outras foram vendidas a casas de leilão ou indivíduos que nem sequer sabiam que eram roubadas. As investigações continuam para localizar as 13 moedas restantes e responsabilizar os envolvidos.

A 1715 Fleet – Queens Jewels, LLC, declarou-se “chocada e decepcionada” com o roubo, mas colabora com as autoridades para garantir que as moedas retornem aos seus legítimos guardiões. 

É importante destacar que esse caso vai além do crime moderno e toca em um tema maior: a preservação do patrimônio cultural. Para historiadores e arqueólogos, os naufrágios da Frota de 1715 são uma cápsula do tempo, oferecendo um vislumbre das perigosas expedições marítimas da época e das riquezas que moviam impérios. A ganância moderna, no entanto, ameaça essa herança.

A saga das moedas de ouro — da tempestade mortal de 1715 ao roubo engenhoso de 2015 — mostra que, mesmo séculos depois, o apelo do ouro perdido continua irresistível. Enquanto as buscas pelas moedas desaparecidas seguem, a história desse naufrágio épico segue inspirando tanto exploradores quanto os que sonham com riquezas escondidas.